quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Janick Gers fala sobre a influência Celta do Maiden

O repórter Bryan Reesman do blog Attention Deficit Delirium fez uma extensa entrevista com Janick Gers, um dos três guitarristas do Iron Maiden, que falou sobre o “The Final Frontier”, “Tattooed Millionaire”, o disco que fez com o vocalista do Marillion, dentre outros assuntos.


Confira a entrevista na íntegra!


Tradução: Imprensa Rocker

Ontem, 16 de agosto, foi a data de lançamento do 15º disco de estúdio do Iron Maiden, o épico “The Final Frontier”, que é o álbum mais longo da banda até hoje – 76 minutos – e que traz a maior média de duração por música: 7’40’’ por faixa. É claro que quantidade nem sempre é igual a qualidade, mas o novo CD possui aquele som clássico do Maiden que os fãs conhecem e adoram, enquanto ainda apresenta novas idéias que, apesar da longa duração de cada faixa, mostra que o grupo britânico ainda tem muita gordura para queimar.


Na semana passada falei com o guitarrista Janick Gers, que discutiu sobre o novo álbum, os leais fãs da banda, sua filosofia na música e seu poder em questionar as coisas. Nosso bate papo durou uma boa de uma meia hora e nos deu muito material extra. Gers é um cara que gosta de falar e que tem muita coisa em mente. Ele tocou no “Vigil in a Wilderness of Mirrors”, o fantástico primeiro disco solo do ex-volcalista do Marillion, Fish, e falou sobre como foi participar deste clássico.


Onde você está agora?


Janick Gers: Estou em Bergen, Noruega, um lugar lindo. Vamos fazer um show hoje a noite para 25 mil pessoas. É uma cidade bem pequena, não sei de onde tanta gente virá, mas aparentemente todos os ingressos foram vendidos (risos). Pelo que parece, as pessoas virão de toda a Noruega.


Eu soube que houve um temporal no show de vocês na Finlândia, durante um festival, e que várias bandas cancelaram suas apresentações. O que aconteceu?


Janick Gers: Nós fizemos o show no “Sonisphere Festival”, em Estocolmo, e estava chovendo torrencialmente durante todo o dia. No minuto em que entramos no palco, a chuva parou e o sol apareceu. Então nós terminamos a apresentação e a tempestade voltou. Foi inacreditável. Nossa equipe ficou ensopada o dia inteiro. Quando chegamos na Finlândia, no dia seguinte, tinha um avião virado de lado na pista de pouso, e nosso gerente de turnê falou: “Hei, eu fretei um avião parecido com este!”. Então Buce perguntou, “qual era a capacidade de passageiros?”, e nosso gerente de turnê: “capacidade para 30 pessoas”. E lá estava um avião com capacidade para 30 pessoas, virado de lado na pista. O que aconteceu foi que um tornado ou algo do tipo passou por lá e literalmente arrancou metade das árvores, além de virar o avião – por sorte a nossa equipe ainda não estava no avião.


Nós fomos para o estádio, onde haviam dois palcos imensos. O Motley Crue e Alice Cooper iam tocar lá também, e o palco do Motley Crue foi literalmente dobrado ao meio. Foi inacreditável; os andaimes se partiram em dois. Tudo aconteceu em 10 minutos. Nosso equipamento ficou totalmente destruído: o teto impermeável do palco quebrou e a água desceu em cima da nossa mesa de mixagem. Foi uma confusão! Iggy Pop entrou para fazer um set acústico de algumas canções, e Alice Cooper entrou uma hora e meia atrasado. Acho que nós entramos com duas horas de atraso e fizemos o trabalho. Haviam muitos garotos lá e cancelar a apresentação estava fora de questão. Nós entramos no palco com metade do P.A. funcionando, metade da luz e com muito poucos monitores no palco, porque a mesa de mixagem estava destruída. Fizemos um ótimo show e nos divertimos.


Me lembro de ter assistido o “Flight 666” e notado que para muitos fãs, em certos países que não recebem tantas turnês, como em alguns países da América do Sul, um show do Iron Maiden é como uma experiência religiosa. Os fãs são realmente devotos.


Janick Gers: Temos tido um apoio tremendo dos fãs da América Sul por muitos anos. Nos anos 90, fizemos vários grandes shows lá, e até quando Bruce saiu continuamos a tocar muito por lá. Sempre tentamos ir para lá, porque os garotos nos apóiam muito. Nós queremos tocar para as pessoas, e lá têm pessoas interessadas em nos ouvir, então viajaremos para qualquer lugar. É sempre emocionante ir para lugares diferentes, porque pode ter alguém que nunca nos viu, e esta é parte da diversão de se estar numa banda. Viajar é bem excitante para nós; eu adoro ir para lugares diferentes.


Eu acho que nós dos Estados Unidos somos muito mimados, porque temos várias turnês enquanto alguém no Japão ou na América do Sul não consegue ver estas bandas tão regularmente quanto nós, e ainda assim eles são muito mais apaixonados em seu apoio às bandas.

Janick Gers: Eu acho que no Japão há muitas turnês, muitas mesmo. Eu estive lá com outras bandas antes do Maiden. Eles têm muitas turnês por lá. Na América do Sul é mais complicado de ir. Nós usamos um avião na última tour, porque é mais difícil transportar o equipamento por lá; você tem que pular certas áreas. Com o equipamento no avião, podemos ir a lugares como o Equador, que não tínhamos como ir antes; é impossível passar o equipamento pela alfândega. Há muita burocracia. Você pode passar seis meses organizando uma turnê como aquela. A logística é bem assustadora, na verdade. Eu nem me envolvo com isto, mas nós temos pessoas trabalhando nestas tours com um ano de antecedência. É bem difícil de excursionar por lá, e você tem que ter uma base de fãs que realmente irá ao show, porque os promotores arriscam seu dinheiro para trazer uma banda como a nossa. Se ele faz o show e ninguém aparece, ele vai estar em um grande problema. Para começar, você tem que ter um grande público; não pode apenas ir e esperar que as pessoas apareçam.

The Final Frontier” traz dez canções em 76 minutos, algumas da quais você contribuiu. Você co-escreveu a canção mais curta do novo disco, “The Alchemist”, que lembra a era do “Powerslave”.


Janick Gers: É apenas uma canção de Rock n’ Roll. Eu a trouxe junto com mais uma hora de trabalho, como todos fazemos. Todos eles trazem um monte de material. Eu trouxe esta bem rockeira, porque imaginei que haveriam algumas canções longas, então trouxe uma curta, mas direta. Eu tinha coisas bem diferentes, provavelmente bem mais progressivas, mas esta foi uma daquelas em que todos pareceram curtir. Steve encontrou a melodia para ela, Bruce escreveu as letras e pareceu funcionar.


É frustrante para cada integrante levar bastante material, sabendo que provavelmente só um par de faixas serão utilizadas no disco?


Janick Gers: Obviamente eu acabo com muitas canções e idéias descartadas, mas o mais importante é que tudo se encaixe e que tenha um tema que as una. Funciona bem musicalmente, e ás vezes algo que é muito bom acaba não entrando no álbum, mas é colocado na reserva para, talvez, alguma outra coisa. Nunca se sabe.

Na minha canção preferida do álbum, “When The Wild Wind Blows”, parece que Bruce está cantando uma melodia folk britânica. Estou certo?


Janick Gers: Há muitas melodias celtas. Uma faixa do “Virtual XI”, “The Clansman”, também é uma canção bem celta. Escrevemos esta com Bruce durante uma das turnês. O começo de “The Talisman” tem uma abordagem celta, quase como uma canção dos mares. “Dance of Death” tem um feeling parecido. Há muito destes elementos celta na banda. Steve tem muita influência do Jethro Tull, Ian Anderson e coisas do tipo, assim como eu também. Eu cresci com este tipo de coisa e o resto da banda também, então há um elemento disto em nossa música. Eu cresci ouvindo uma banda chamada Lindisfarne, que tinha um clima bem folk, e eu os adorava. Eles eram uma banda grande na Inglaterra durante o começo dos anos 70. Algumas destas coisas eram bem extremas, Bruce e eu fomos criados com isto. Está tudo lá.


Você tocou no meu álbum de Rock preferido de todos os tempo, “Vigil in a Wilderness of Mirrors” do Fish. Como você o conheceu?

Janick Gers: Eu estava jogando futebol com ele, e ele tinha uma barriga enorme, então eu disse, “você também pode acabar com um corpo como a deu um peixe”. Ele me olhou e respondeu, “só se não for cuidadoso”. Ele disse que estaria fazendo um grande show com o Marillion nos próximos dias, no estádio de Wembley (o show foi no evento em tributo ao 70º aniversário de Nelson Mandela, em junho de 1988), e perguntou se eu estava a fim de ir. Ele queria que eu tocasse, então ensaiei algumas coisas e fui. Eu conhecia Bruce da época em que tocava com Ian Gillan, porque ele costumava assistir nossos shows, e da época do Samsom. No show de Wembley, o cantor do Spandau Ballet ia cantar uma antiga canção do Mott The Hoople, “All The Young Dudes”, que eu adoro. Fish me colocou para tocar nesta e em algumas outras músicas, e acabei tocando meia hora com ele. O cara do Spandau não conseguiu ir, e Nicko estava fazendo a bateria em algumas músicas, e disse que Bruce estava por lá. Então Bruce veio e cantou “All The Young Dudes”. Então, mais tarde, Fish me convidou para fazer este álbum com ele, após sair do Marillion. Escrevi uma música com ele para o disco, fiz todas as demos do álbum com ele, e então Bruce me ligou e perguntou se estava a fim de fazer alguma coisa com ele, que acabou sendo “All The Young Dudes” e uma faixa para o filme “Nightmare on El Street 5”, que foi “Bring Your Daughter… to The Slaughter”. Nós a escrevemos, e então gravamos “All The Young Dudes”. Aí Bruce decidiu que queria fazer um álbum, e fizemos o “Tattoed Millionaire”, e neste intervalo eu fiz o disco com Fish.

“Vigil in a Wilderness of Mirrors” é um grande álbum.Janick Gers: Foi um bom álbum, mas as demos, na verdade, eram mais pesadas do que aquilo (que saiu no disco). Eu não me dei muito bem com o produtor que estava envolvido, Jon Kelly, porque eu era muito Heavy para ele. Eu acho que Fish deveria ter sido mais pesado, e que algumas das demos eram melhores do que as canções do álbum. Eles foram para um lado muito Jazz e fizeram muito dinheiro, mas eu achei que as demos que fizemos eram mais pesadas e melhores. O que eu adoro no Marillion é que eles podem ser muito fortes e poderosos, e ainda assim ter passagens bem calmas, mas as passagens fortes são bem extremas e pesadas, que era o que eu queria naquele disco. Mas eu acabei indo com Bruce e fizemos o “Tattoed Millionaire”, então o Maiden pegou o single que fizemos, “Bring Your Daughter…to the Slaughter”, e o colocou em seu novo álbum – “No Prayer For The Dying”. Foi quando eles me convidaram para me juntar à banda, quando Adrian saiu – foi uma coisa meio incestuosa.


Você esteve em contato com Fish desde então?


Janick Gers: Não tenho o visto recentemente. Ele veio a um show do Maiden há um tempo. Eu gosto muito dele. Na verdade, quando ele disse que estava deixando o Marillion, eu lhe disse para não fazê-lo. Eu achei que era uma jogada errada, e ainda acho. Ele veio até mim e disse que eu tinha sido o único que falou aquilo para ele. Ele disse, “todo mundo me disse que era ótimo e que deveria sair”. Eu disse, “estou te dizendo que você é estúpido; você deveria ficar” (risos). Ele não falou comigo por uns seis meses. E achava que ele escrevia ótimas letras e eles (o Marillion) faziam ótimas músicas, e o esforço combinava perfeitamente. E eu realmente gosto dos caras do Marillion; acho que eles são uma ótima banda.


Uma coisa em comum entre o Marillion e o Maiden – pelo menos antigamente – eram os mascotes e logos inconfundíveis. Falando sobre o Maiden, parece que o grupo faz tanto dinheiro com o merchandise quanto com a música. É verdade?


Janick Gers: Eu não sei. O que fazemos é usar o merchandise como garantia. Custam uns dois milhões de dólares e de libras para montar uma turnê, e você precisa deste dinheiro com antecedência – e eu não acho que algum banco vá nos emprestar. Se você quer montar uma turnê, você precisa de dois milhões ou seja lá quanto custe pôr a turnê na estrada. Eu não tenho como te dizer os números – não faço idéia – mas fazer um tour desta magnitude custa muito. Nós estamos sempre investindo no que usamos; queremos as melhores luzes. Temos oito caminhões na estrada; temos que ter o maior palco possível; nós levamos Eddies gigantes e estas coisas têm que ser transportadas de país em país. Ou usamos um avião, que precisar ser pago, ou usamos oito, nove ou dez caminhões. Tudo vai para manter a banda funcionando.

Fonte: Attention Deficit Delirium

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